Sábado, 27 Abril 2024

​IA para prever assassinatos no ES

Na busca incessante por soluções para o combate à criminalidade, o Estado do Espírito Santo pretende adotar uma abordagem inovadora, porém controversa: a utilização de inteligência artificial japonesa para prever assassinatos. A parceria entre a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) e a empresa Singular Perturbations Inc. levanta uma série de questões éticas e práticas que merecem uma análise crítica.

Embora a proposta prometa uma maior precisão na identificação de locais e horários com potencial para crimes, é fundamental questionar a eficácia e os possíveis impactos dessa intervenção tecnológica. Primeiramente, a confiabilidade dos algoritmos de inteligência artificial em prever comportamentos humanos, especialmente os criminosos, é incerta. O risco de falsos positivos e negativos pode resultar em ações policiais arbitrárias ou negligência em áreas de real necessidade.

Além disso, a implementação de tal sistema levanta sérias preocupações quanto à privacidade e liberdades individuais. A coleta massiva de dados sobre cidadãos, mesmo que para fins de segurança pública, abre precedentes perigosos para o monitoramento indiscriminado da população, colocando em xeque princípios democráticos fundamentais.

Outro importante ponto a ser considerado é a potencial negligência na abordagem sistêmica dos problemas sociais subjacentes à criminalidade. Investir em tecnologias preditivas pode parecer uma solução rápida, mas não aborda as causas profundas da violência, como desigualdade socioeconômica, falta de acesso à educação e oportunidades de emprego, entre outros fatores estruturais.

Apesar das intenções louváveis de reduzir os índices de homicídios, é necessário um debate público transparente e aprofundado sobre os riscos e benefícios dessa iniciativa. A parceria de teste de três meses entre o Estado do Espírito Santo e a Singular Perturbations Inc. deve ser acompanhada de perto por órgãos de controle e pela sociedade civil, garantindo a prestação de contas e a proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Em última análise, a aplicação de inteligência artificial na prevenção de crimes pode representar um avanço significativo na segurança pública, mas somente se for implementada com responsabilidade, transparência e respeito aos direitos humanos. A busca por soluções rápidas não pode comprometer os princípios democráticos e os valores éticos que fundamentam uma sociedade justa e livre.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"
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