Há décadas os agricultores do Espírito Santo estão sendo doutrinados para substituir a capina com enxada, realizada ao longo da história da humanidade para limpar os plantios e realizar a capina química, com o glifosato. Herbicida, o glifosato não mata só as plantas consideradas indesejáveis no meio da lavoura. Também mata gente, e destrói o solo, aniquilando as micros fauna e flora, além de contaminar a água.
A doutrinação deu certo. Milhares de famílias capixabas estão usando o Roundup, glifosato produzido pela Monsanto, para a capina química. Agricultores agroecológicos, consumidores de seus produtos e apoiadores do Espírito Santo participarão do Dia Mundial contra a Monsanto, no dia 23 próximo.
A forma de como participar será definida em reunião na próxima quinta-feira (14), quando a Via Campesina discutirá o assunto, entre outros temas. A Via se reúne em São Mateus. Outra reunião onde o tema estará em pauta será na quinta-feira (21), quando se reúnem os participantes no Estado da Campanha contra os Agrotóxicos.
Mesmo com o trabalho que a Via Campesina faz sobre agroecologia, o consumo dos herbicidas e outros venenos agrícolas continua intenso. Tanto no Brasil, o país que mais consome venenos no mundo, como no Espírito Santo, hoje o terceiro lugar no consumo de venenos por pessoa. Mas é campeão nacional no uso de herbicidas.
A escola para uso dos herbicidas e outros venenos na agricultura foi criada pela Aracruz Celulose (Fibria), que emprega o que já foi chamado de rios de venenos em seus eucaliptais.
Como apoio do governo do Estado, principalmente de Paulo Hartung (2003 – 2010) e a partir de janeiro deste ano, no terceiro mandato, os plantios de eucalipto se ampliaram para todo o Estado. Até nas bacias que abastecem a Grande Vitória, formada pelos rios Jucu e Santa Maria da Vitória.
Como resultado do uso destes agrotóxicos, o Espírito Santo registra mil mortes por ano. Oficialmente são 20 mortes/ano, mas o número deve ser multiplicado por 50 casos não notificados para cada caso notificado, como estima a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O Roundup, da Monsanto, é persistente no solo. É aplicado várias vezes, e vai se acumulando no solo, carreado para a água, e mata a microfauna e microflora.
Para matar insetos e fungos considerados daninhos, muitos agricultores aplicam nos cafezais, até quatro vezes por ano, o “Verdadeiro”, da Bayer CropScience. Este também um agrotóxico persistente. Toda vez que o agricultor entra nas suas plantações, é atingido tanto pelo Roundup, como pelo “Verdadeiro”, entre muitos outros produtos desta natureza.
O resultado das aplicações de tantos venenos alarma. Contra o uso destes herbicidas e outros venenos agrícolas, os movimentos do campo e da cidade protestam.
Valmir Noventa, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Espírito Santo, destaca que os venenos agrícolas, ao destruirem o solo, matam todos os microorganismos que dão vida ao próprio solo e aos alimentos. E contamina os produtos que comemos.
Lembrou que tanto a Abrasco quanto a Fiocruz produziram estudos sobre os agrotóxicos. E que o Ministério Público Federal (MPF) cobra agilidade da Anvisa para que retire do mercado o glifosato.
Explica que o grande consumo do glifosato reduz o custo da produção. Mas o que a maioria dos usuários não vê, são os estragos que o produto deixa. Acaba com a terra, contamina a água, inclusive a que bebemos. E vai baixando a produtividade do terreno, até sua destruição total.
São por estas razões, que os agricultores ligados ao MPA praticam a agroecologia. O terreno é limpo com roçadas, e ocorre a prática seletiva de capina, com enxada. É desta forma que eles conservam a terra.
No Espírito Santo, são cerca de 2.500 famílias, em aproximadamente 30 municípios, ligadas ao MPA e que produzem sem venenos agrícolas. Valmir Noventa afirma que está mais que provado que a agricultura camponesa tem alta produtividade e pode alimentar a humanidade.
Ressalta que é preciso políticas dos governos federal, estaduais e municipais que incentivem a agroecologia, desde a produção, até a comercialização. Neste sentido, é preciso combater o atravessador, que compra a preços baixos, e vende por valor alto.
Com o objetivo de valorizar a agroecologia é que os capixabas estão programando suas atividades para denunciar o elevado consumo de venenos agrícolas e combater o glifosato em particular, no dia 23 próximo.
A Monsanto produz não só venenos agrícolas, mas também transgênicos. A empresa é acusada por atentar contra ambiente e agricultores, e se envolver com submundo da política e dos exércitos privados. A empresa informa que o Roundup foi produzido em 1970, com a síntese do glifosato, ingrediente ativo do herbicida.
Em 1974, o Roundup foi registrado pela primeira vez para uso, na Malásia. Logo depois, em outros países. No Brasil, chega em 1972 e é comercializado em 1978. É produzido no Brasil em 1984. “Aqui, a marca Roundup se transformou”, comemora a Monsanto. É o agrotóxico mais vendido no mundo como herbicida, e a Monsanto considerada 'o maior parceiro do plantio direto”.