A área devastada pela Aracruz Celulose (Fibria) e usada até a exaustão com plantios de eucalipto, deve ser reflorestada pela poluidora. E a recuperação da vegetação nativa deve começar pelas margens dos rios e córregos do território indígena. E com esta visão é que os índios estão começando a discutir com a empresa, como aconteceu esta semana.
Mas os índios estão encontrando resistência da empresa, como destacou o cacique Pedro Silva Karaí, da aldeia de Piraquea-açu. Lembrou que os índios não têm recursos para recuperar o que a Aracruz Celulose (Fibria) destruiu.
Os índios querem, no primeiro momento, que a empresa pelo menos replante a mata nativa das margens dos córregos e rios. “As beiradas dos rios são importes para a preservação ambiental e têm que ter plantas. A empresa tem de fazer isto”.
Os rios estão sofrendo por falta de vegetação, além da poluição dos rios por esgotos e agrotóxicos. Atualmente não há mais peixes no rio Piraquê-Açu, por exemplo, exceto umas poucas espécies mais resistentes.
Além dos prejuízos do desmatamento e assoreamento do rio pela terra destruída pela Aracruz Celulose (Fibria), há um outro complicador no caso do rio Piraquê-Açu. Destacou o cacique Pedro Silva Karaí: “Os cardumes não sobem o rio para a desova”.
E atribui mais este desequilíbrio ambiental à Jurong, que tem um estaleiro em Aracruz. Os índios estudam exigir indenização a outras empresas, além da Aracruz Celulose, que tenham sede no município.
Aracruz X índios e quilombolas
Os primeiros plantios de eucalipto da Aracruz Celulose começaram em novembro de 1967. Nesta ocasião, a empresa já havia grilado terras dos quilombolas, pequenos produtores rurais e dos índios. Para isto usou pistoleiros, como o temido matador major PM Orlando Cavalcanti, da PM, e o tenente Merçon, do Exército. Também usou o poder econômico e sua parceria com o governo militar e com os governadores biônicos (não eleitos pela população).
Dos quilombolas a empresa tomou, seja comprando por preços vis, a partir de sedução com promessa de empregos e bons salários, ou pela força, 50 mil hectares. Dos índios, a empresa usurpou 40 mil hectares, dos quais retomaram e estão registrados em cartório 18.154,93 hectares de terras indígenas no Espírito Santo, dos povos Tupinikim e Guarani.
Os quilombolas ainda não retomaram nada de seu território, pelo qual lutam. E tampouco os pequenos produtores recuperaram suas terras.
Para os plantios de eucalipto, a empresa destruiu a mata atlântica e toda a sua biodiversidade. Erling Sven Lorentzen foi o mentor do assalto aos índios, quilombolas e agricultores e das suas terras. Ele foi fundador e presidente da Aracruz Celulose, da qual detinha 28% das ações, vendidas em 2009 por R$ 2,3 bilhões. Com a operação de venda, a Votorantim e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passaram a ser o novo bloco de controle da Aracruz.