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Erling Sven Lorentzen, o norueguês que destruiu 50 mil hectares da mata atlântica, será homenageado no Brasil

O empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, que destruiu 50 mil hectares da mata atlântica e toda sua biodiversidade no Espírito Santo para plantar eucalipto, matéria-prima para a celulose, será homenageado no Brasil.  O eucalipto é voraz consumidor de água e cria o chamado ???Deserto Verde???, expressão cunhada pelo Patrono da Ecologia no Brasil, Augusto Ruschi.
 
No currículo do empresário,  ainda a produção de êxodo dos quilombolas, índios e camponeses das terras que grilou com métodos nazistas. Comunidades inteiras passaram a viver na miséria após perderem suas terras e seu sustento.
 
Erling Sven Lorentzen também lançou dioxinas no mar, a partir de suas três usinas de celulose em Aracruz, norte do Espírito Santo. A contaminação do mar com tais poluentes foi feita por décadas e diretamente, sem nenhum tratamento. As dioxinas são cancerígenas.
 
Entretanto, esse histórico de terrorismo é ignorado pelos organizadores do 48º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel. O evento é  organizado pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), que o homenageará em  outubro próximo, em São Paulo. No evento passa a ser considerado um herói, que combateu Adolfo Hitler. 
 
A ABTCP não vende barato a homenagem ao fundador da Aracruz Celulose, hoje Fibria. Considera que ???fez uma trajetória digna de ser representada em Hollywood???. Erling Sven Lorentzen nasceu em Oslo, Noruega, em 28 de janeiro de 1923, e ???aos 17 anos viu seu país invadido por forças nazistas???. Dos quais foi destacado combatente, como é destacado.
 
Outra história
 
O sonho tropical de Erling Sven Lorentzen foi realizado com favores da ditadura militar. Recursos federais e favores estaduais sempre irrigaram os cofres da Aracruz Celulose (Fibria). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empresta a juros subsidiários, quase doações, à empresa. 
 
As atividades da Aracruz Celulose (Fibria) começaram no campo, em novembro de 1967, quando foram plantados os primeiros eucaliptais da empresa. 
 
O intento do empresário Erling Sven Lorentzen foi construído com sua aliança às mais altas figuras da ditadura militar, como o general-presidente da República, Ernesto Geisel. E com a ajuda dos representantes dos militares no Espírito Santo, os governadores biônicos (não eleitos pelo povo e nomeados pelo governo federal) Arthur Carlos Gerhardt Santos e Cristiano Dias Lopes. Gerhardt começou a preparar o terreno para o domínio da Aracruz Celulose, fundada em abril de 1972.
 
Dinheiro não faltou para todos os projetos, inclusive a construção das três fábricas em Aracruz. O projeto idealizado pela empresa para o norte do Estado se viabilizou graças ao financiamento do BNDE ??? na época sem o social ???, considerado o maior concedido até então a uma empresa privada. Orçado inicialmente em U$S 460 milhões, e depois corrigido para US$ 536 milhões, coube ao banco a maior parte dos recursos, US$ 337 milhões.
 
Quem coroou o acordo foi o governador biônico do Estado na época e ex-deputado estadual Elcio Alvares (DEM). A nomeação dele no governo, em março de 1975, para substituir Arthur Carlos Gerhardth, foi considerada uma contribuição ao arranjo para o financiamento do Grupo Aracruz. Já Gerhardth saiu do governo para assumir, direto, a presidência da Aracruz Celulose. 
 
Depois da inauguração da fábrica A da empresa, o BNDES continuou financiando os projetos de expansão da Aracruz  –  fábricas B e C -, com participações no quadro acionário.
 
Em 2003, o Grupo Aracruz iniciou a construção da fábrica da Veracel, em Eunápolis, no extremo sul da Bahia, em parceria com a empresa sueco-finlandesa Stora Enso, com um financiamento de US$ 546 milhões do banco.
  
O processo de usurpação das terras quilombolas pela Aracruz Celulose, no período militar, assim como ocorrera primeiro com os índios Tupiniquim e Guarani de Aracruz, foi marcado por episódios de violência, terrorismo e ameaças. Entre os pistoleiros contratados pela Aracruz Clulose (Fibria), o temido major Orlando Cavalcante, capanga da Aracruz. O major expulsava índios Tupiniquim das áreas griladas pela empresa. 
 
Os danos aos descentes dos escravos negros, os quilombolas,  também são atos de terrorismo. Usava os serviços do tenente Merçon, do Exército. Um dos documentos entregues em CPI  realizada pela Assembleia Legislativa sobre a Aracruz Celulose  listou 65 áreas, requeridas por mais de 30 funcionários e ex-funcionários da empresa, totalizando mais de 13 mil hectares de terras transferidas pela empresa, muitas delas nas áreas mais agricultáveis do Estado.
 
Os imóveis que constam na decisão foram requeridos nos anos 70 por 12 ex-funcionários da empresa, que funcionaram como laranja na operação. São eles: Dirceu Felício, Edgard Campinhos Junior, Fernando José Agra, Giácomo Recla Bozi, Orildo Antônio Bertolini, Ivan de Andrade Amorim, Sérgio Antônio Forechi, Alcides Felício de Souza, Gumercindo Felício, Joerval Abrahão Vargas, José Antônio Cutini e Valtair Calheiros.
 
O roubo das terras é objeto de ação do Ministério Público Federal (MPF). O órgão requereu  na Justiça Federal a declaração de nulidade dos títulos de domínio de terras devolutas concedidos pelo Estado à Aracruz Celulose e a legitimação das terras em favor dos quilombolas, conforme o previsto em lei, e a condenação da Aracruz a reparar os danos morais coletivos, no valor de R$ 1 milhão.
 
Biografia oficial
 
A biografia oficial, que não só ignora tais  fatos, destaca que o norueguês Erling Sven Lorentzen estudou na Harvard Business School, nos Estados  Unidos da América.  E vai além. De volta à Noruega, entre outros afazeres, a prestação de serviços à família real como instrutor de vela das filhas do rei Olav V. Acabou casando com a mais velha, a princesa Ragnhild.
 
Veio ao Brasil para ajudar o pai a lidar com agentes de navegação que o representavam na América Latina e ficou por definitivo. Já estabelecido por aqui, se envolveu em negócios de gás de cozinha e de navegação. Em 1972, iniciou outros negócios, entre eles, a Aracruz Celulose.
 
A visão oficial aponta com responsável pela  ???redução do consumo de água e de emissão de substâncias nocivas à atmosfera. Diminuiu, ainda, o uso de produtos químicos como o cloro durante a produção???. O que as dioxinas lançadas no mar contraditam.
 
Para finalizar:  ???A despeito de sua marcante atividade empresarial e socioambiental, Lorentzen jamais abandonou a prática esportiva. Foi tetracampeão da Regata Santos-Rio com o seu barco Saga, com vitórias em 1966, 1969, 1989 e 1992, tornando-se o maior campeão da que é considerada um dos maiores desafios aos velejadores brasileiros???.
 
A Wikipédia  registra que Erling Lorentzen casou-se com a princesa Ragnhild da Noruega, a filha mais velha do rei Olavo V e da princesa Marta da Suécia, em 15 de maio de 1953, em Asker. O casal mudou-se para o Rio de Janeiro, e teve três filhos: Haakon Lorentzen, Ingeborg Lorentzen  e Ragnhild Lorentzen. Erling ficou viúvo em 16 de setembro de 2012.

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