“Você tem que descobrir as coisas pela intuição, pela afetividade, pela compreensão de si, pelo processo amoroso de busca. Que é totalmente longe de qualquer ciência”, orienta Arnaldo de Almeida, Shri Babaji Desai, fundador e Mestre do Sistema Shivam Yoga.
“Autoconhecimento para a iluminação da consciência”. Esse é o princípio básico da escola de Yoga criada pelo Mestre Arnaldo em 1999, em Ouro Preto/MG, com a proposta de resgatar o Yoga Tradicional Indiano, surgido na Índia Antiga por volta de 15 mil anos atrás, no seio da sociedade Dravidiana. As escavações arqueológicas atuais indicam que essa sociedade – matriarcal, vegetariana e não-beligerante – existiu em cidades como Mohenjo Dharo e Harapa, na região do Vale do Indo, hoje equivalentes a partes da Índia e do Paquistão.
Micro macro
Uma das principais afirmações do Tantra – filosofia que embasa, junto com o Samkhya, o Shivam Yoga – é que o ser humano é um microcosmo energético dentro de um manancial cósmico energético.
“Seu espírito já sabe tudo. Você como ser espiritual que é, já tem todo o conhecimento do universo. Você é um microcosmo energético dentro de um manancial cósmico. Tudo o que está lá está aqui, você nem sabe que tem esse poder todo. E à medida que, no caminho, você vai acordando essas potencialidades, tudo vem. É claro! A intuição e a espiritualidade estão integradas, então você caminha com uma consciência própria, não levada por uma mídia ou outras coisas externas. Você consegue ter um posicionamento seu mesmo, próprio”, narra Alessandra Cunha, uma das primeiras discípulas do Mestre Arnaldo e diretora do mais antigo núcleo de Shivam Yoga no Espírito Santo.
“E naturalmente”, continua Alessandra, “quando você pratica yoga você vai desintoxicando os seus corpos, que a gente tem uma visão do corpo físico, energético, emocional, mental, espiritual e que todos eles são integrados. Na medida que você vai praticando, eles vão sendo desintoxicados e se expressam melhor, você passa a expressar melhor todas as suas potencialidades”, conta. “A natureza é muito sábia, se a gente parar pra ouvir, ela nos diz tudo”, mantraliza a yoguim.
Mais força e coerência
Perguntado se a consciência ambiental é ampliada à medida que a pessoa mergulha no Yoga, Mestre Arnaldo é categórico: “Evidentemente que sim. Se todo ambientalista fosse yoguim o movimento seria mais forte, mais coerente”, visualiza.
“Preservacionismo é egocêntrico e antropocêntrico, especista [discriminação contra algumas espécies em favorecimento de outras]. Quando, na verdade, é o todo que a gente tem que preservar”, explica Arnaldo, destacando os efeitos deletérios que o Darwinismo foi provocando na cultura ocidental ao longo do século XX.
“O evolucionismo darwinista é um desastre. Competição, vencer, superar, os mais fortes vencerem os mais fracos. Mesmo que alguns estudiosos de Darwin defendam que ele não disse isso, foi o que se construiu a partir da sua Teoria [da Evolução]: a ideia de que você tem que derrubar o outro, destruir o outro, a ideia de competição”, alerta.
“E eu sempre digo que essa ideia evolucionista darwinista jamais surgiria na Índia. Nunca, não tem solo fértil pra isso. Lá o pensamento é outro, de entender a natureza pra você se compreender. Do amor, da compreensão, de compartilhar, é uma outra história. Jamais Darwin teria nascido hindu, jamais Freud teria nascido hindu. A Psicanálise nasceu na Europa, num período pessimista, decadente, onde era quase impossível ser feliz, onde materialmente estavam em progresso, mas mentalmente em declínio, onde a espiritualidade estava muito distante e a religião entrou, a Cristã, com muita força”, avalia.
Hábitos saudáveis pra si e para o planeta
No contraponto da competitividade e racionalidade excessiva, o Mestre yoguim destaca o caminho tântrico e sua coerência intrínseca com busca da mais elevada sustentabilidade e conservação da biodiversidade. “A pessoa, quando se torna yoguim, começa a olhar o mundo de outra forma. A não-violência vai surgindo naturalmente em si. Vai saber que comer carne é uma violência, um palavrão é uma violência. E esse movimento de harmonia consigo e com o externo tem que ser de dentro pra fora. Não pode forçar a barra”.
Alessandra, assim como outros discípulos mais dedicados, sabem bem o que é isso. Estudante de Nutrição na Universidade Federal de Ouro Preto, foi conhecer uma prática de Yoga de Arnaldo, antes mesmo da criação do Sistema Shivam Yoga. “Não se falava em orgânicos, em energia, na universidade”, lembra. “E passei a praticar e a me alimentar na casa do Mestre, de forma natural. E fui vendo essa relação com todos os seres, de todas as formas”, conta.
Isso no início da década de 1990, quando, em Vitória, o Yoga também não era muito disseminado. “Eu parecia um bicho estranho fazendo yoga na universidade”, ri. “Hoje todos querem saber de yoga, então precisou ver tanta coisa ruim, tanta desordem, pra então se falar: a gente precisa parar, meditar, sentir, ver, se harmonizar, se equilibrar”, observa.
“É uma força, uma clareza, uma lucidez, ancora uma energia. Yoga é aquela energia que eu ancoro todo dia pra desenvolver o que eu tenho que desenvolver. Você vai tomando mais rédea da sua vida. Acho isso um conforto maravilhoso, um tesouro. Eu posso cair um milhão de vezes, mas eu sei voltar pra luz”, regozija.
Alimentação orgânica e vegetariana, abstinência de álcool e outras drogas, são os hábitos mais citados entre os yoguins como exemplos de práticas ambientalmente corretas. De fato, cada vez mais estudos – científicos, diga-se de passagem – têm mostrado a relação direta entre hábitos alimentares e proteção (ou destruição) das florestas e do clima. Mas isso é assunto para a próxima reportagem da série.