O Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), respeitada entidade ecumênica criada em 1979 e cuja sede fica em Alagoas, divulgou, nessa segunda-feira (6), uma nota em que pede que a Igreja Católica de Vitória reveja sua decisão de extinguir a Comissão Justiça e Paz (CJP), deliberação do arcebispo metropolitano Luiz Mancilha, do último dia 3.
No texto, a entidade diz que “o CEBI aposta no caminho no qual o Evangelho prevaleça e que a posição da Igreja de Vitória seja revista e se possa resgatar a Justiça e o Direito para o bem do povo. Que se desfaçam alianças políticas que não visam o bem comum. Destituir uma Comissão de Justiça e Paz, em tempos de muita exploração, opressão, violências e de injustiças, é no mínimo jogar por terra o Evangelho, o Reino e a sua Justiça”.
A nota faz duras críticas ao senador Magno Malta (PR) e também ao encontro que o político capixaba teve com o arcebispo Luiz Mancilha na Cúria Metropolitana. O registro da visita ganhou as redes sociais.
Malta fez questão de prestar apoio à Mancilha na luta contra a descriminalização do aborto, depois que o religioso católico postou um vídeo em que chamou o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) de “partido que defende a morte” e defendeu que os fieis católicos fizessem um boicote de votos à legenda. Foi o Psol que propôs a discussão da descriminalização do aborto, discutida no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Nestes últimos dias acompanhamos uma situação um tanto quanto problemática e que figura nos quadros políticos e religiosos uma armadilha feita por lobos em peles de cordeiros. É o fato de um senador do Espírito Santo que, ao pousar de ecumênico, mas sem comprometimento com qualquer movimento de luta por direitos humanos e projetos sociais e integrativos, tem sua foto estampada em jornal de comunicação social junto com o arcebispo de Vitória”.
A nota continua: “Bom aí caberia firmemente a denúncia do jogo sórdido deste senador que carrega as marcas de um político e religioso contrário às práticas em favor da dignidade do povo e, consequentemente, muito distante do Evangelho e da prática libertadora de Jesus. Até aí poderíamos alertar. No entanto, os desdobramentos de tal imagem nos colocou outro perigo ainda maior: Seguindo os princípios do trabalho social e acompanhamentos das ações da Comissão de Justiça e Paz, o então coordenador em ato profético pede renúncia do seu cargo, pois consegue visualizar que há muito mais a se perceber deste jogo perigoso para além da ‘foto’… A ação seguinte do arcebispo foi de destituir toda a equipe de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória…”.
Para os representantes da CEBI, a decisão do arcebispo de extinguir a CJS vai contra as dimensões, diretrizes e caminhos construídos pela Igreja marcada pelo Concílio Vaticano II. “A Doutrina Social da Igreja, as Diretrizes da CNBB e o caminhar impulsionado pelo Papa Francisco foram colocados de lado. Pois melhor a imagem de uma Igreja e aliança política com políticos corruptos e aproveitadores do que aliança com o Evangelho, com a Doutrina Social e com uma “Igreja em Saída”, diz a nota da entidade.
A extinção da CJP foi uma medida tomada por Luiz Mancilha na última sexta-feira (3), um dia depois da renúncia do então presidente da Comissão, Bruno Toledo, que entregou o cargo como reação ao encontro de Mancilha e o senador Magno Malta, defensor declarado da pena de morte e da redução da maioridade penal, medidas, veementemente, condenadas pelos militantes dos direitos humanos.
Segundo Bruno, que estava na Comissão de Justiça e Paz há seis anos, sendo os últimos três deles na presidência, a decisão de entrega do cargo foi tomada “por chegar ao limite”.
“Não poderia continuar porque estaria indo contra a minha essência, ao que acredito, ao que sou. Já passei por situações de eventuais contradições, mas que foram superadas por serem menores. Mas cheguei ao limite. Não poderia estar numa entidade em que seu representante abraça um político que defende a pena de morte e a redução da maioridade penal. Se a luta é pela vida, deve ser uma luta pela vida de maneira mais ampla. O arcebispo abraça o senador que defende a pena de morte no dia em que o Papa Francisco toma uma decisão histórica, mudando o catecismo da Igreja, se colocando contra a pena de morte”, justificou Toledo.