“Eu gostaria de ressaltar aqui que é importante a liberação desses recursos, mas a Renova continua devendo satisfação à sociedade capixaba, a Vale a Samarco, porque nós precisamos de recursos pra pagar os pescadores, pra pagar os proprietários rurais que foram atingidos e pra recuperar a saúde de muitas pessoas que estão convivendo continuamente com essa lama tóxica que está causando problemas de toda ordem na região”.
A fala é do deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) e foi feita na sessão desta terça-feira (11) da Assembleia Legislativa, em referência ao anúncio feito pelo governador Renato Casagrande (PSB) na última sexta-feira (7), da quantia de quase R$ 500 milhões que será repassada ao Estado do Espírito Santo, conforme aprovado pelo Comitê Interfederativo (CIF) – instância criada para fiscalizar as ações da Fundação Renova voltadas à reparação e compensação dos danos do crime da Samarco/Vale-BHP.
No vídeo postado em suas redes sociais, o governador informa que serão R$ 365 milhões para o asfaltamento de três estradas em Linhares e R$ 94 milhões para investimentos em escolas estaduais e municipais de municípios atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG, em 2015.
“Eu não quero ser injusto e quero cumprimentar a Renova, mas gostaria que a Renova liberasse recurso pra construir corações, pra recuperar emoções, pra recuperar a saúde e pra recuperar a dignidade dos pescadores e dos produtores. Porque a empresa precisa estabelecer nas suas relações também sensibilidade. A Vale e a Samarco têm que ter amor pela população. Eles não podem ter amor só pelo dinheiro. Eles não podem comprar as pessoas através de atitudes como essa”, criticou o parlamentar.
“É só fazer uma visita, é só ir em Linhares e ver os ribeirinhos do Rio Doce, pessoas que passaram a ter doenças que não tinham. Pessoa que não têm condição de beber água tratada e utilizam essa água do rio. Crianças e adolescentes que estão mergulhando, tomando banho nessa água que causa esse problema de saúde que compromete gerações e mais gerações”, relatou.
Enivaldo citou a CPI da Sonegação, por ele presidida, e onde a Fundação Renova já foi convocada mais de uma vez, bem como os dirigentes das empresas responsáveis pelo crime contra o Rio Doce. Em uma das reuniões da CPI, inclusive, o então presidente da Renova, Roberto Waack, recebeu voz de prisão por parte de deputados que o acusaram de mentir em Plenário.
“A Renova não tem noção nem do que ela faz e mente pra população”, acusou Enivaldo, citando um exemplo extremo, de um produtor rural que reivindicou indenização de R$ 170 milhões, mas que recebeu contraproposta da Renova de R$ 17 milhões, com base em laudo técnico contratado pela própria Fundação.
“Na negociação é lógico que a parte atingida faz uma projeção de recuperação do dano contando inclusive com o tempo parado e várias coisas, mas quando o laudo é feito pela própria fundação, como ela pode deixar de cumprir o seu próprio laudo?”, protestou o presidente da CPI da Sonegação.
Aprofundando a crítica contra a liberação de mais de R$ 300 milhões para estradas, Enivaldo disse que, diante da tragédia que se alastrou na bacia do Rio Doce depois do crime, a medida perde muito a importância, agravada pela falta de assistência às milhares de pessoas atingidas e que continuam sem renda, perdendo a saúde e sem perspectiva de futuro.
“É bom o recurso vir pra asfaltar as estradas? Muito bom! Mas quem vai recuperar o rio? Quem vai recuperar parte do mar onde foi depositado trilhões de metros cúbicos de produtos que danificaram o Rio Doce, e que danificaram a vida marinha de toda essa região? Então, novamente, nós vamos assistir àquela velha história de um punhadinho de milho pra tratar de trilhões de pombos. É assim que o poder econômico vê e trata os problemas dos grandes favorecidos”, escancela o deputado.
Eu acredito que fizeram preferência pela coisa que poderia esperar mais um pouco”, ponderou. “Por que não pagaram primeiro as pessoas e foram optar pra fazer estrada? Daqui a pouco a Renova vai estar envolvida até na construção dessa estrada”, provocou.
“Eu quero aqui ao mesmo tempo que fazer elogio, a parte do reconhecimento, quero fazer meu protesto pra essa empresa que não tem coração, que não tem amor ao próximo, que com certeza não é administrada com espírito de Deus”, exorou o parlamentar.