Na surdina, a Prefeitura de Vitoria exonerou o secretário de Transportes de Vitória, Josivaldo de Andrade. O ato foi publicado no Diário Oficial do município de terça-feira (3). Secretária em exercício há pouco mais de um mês, Joseane Zoghbi, assume a pasta, como registro a nomeação, publicada nesta sexta-feira (6).
Sitiada por duas comissões parlamentares de inquérito (CPI) para investigação de irregularidades no serviço de taxi e desgastada pelo colapso do sistema municipal de transporte, a gestão Luciano Rezende (PPS) enfrenta turbulências que tem a Secretaria de Transito, Transportes e Infraestrutura Urbana (Setran) como epicentro. As suspeições que cercam a Setran contaminam a vitrine de Luciano, que deve tentar a reeleição em outubro. É sintomática a saída sem alarde de Josivaldo.
Nomeado em março de 2015, Josivaldo atravessou uma crise atrás da outra em seus últimos oito meses à frente da pasta. Em setembro, se desdobrou para defender o Integra Vitória, projeto da prefeitura de integração do sistema de transporte municipal apresentado com o discurso da modernização, mas, em verdade, atendia a uma política de redução de custos das empresas concessionárias.
Empenhado na defesa do projeto, chegou à soberba ao garantir, em entrevista à imprensa, a impossibilidade do retorno do velho sistema. Dois dias depois a declaração se revelaria infeliz: Luciano anunciou o cancelamento do Integra Vitória.
No início deste ano, Josivaldo experimentaria nova crise no transporte municipal, provocada pelo coquetel de aumento da tarifa e redução de frota. O receituário era o mesmo do Integra Vitória: política de redução de custos para as empresas ao sacrifício da população. Esta, claro, estrilou. De licença, Josivaldo não acompanhou os capítulos finais da crise, já substituído por Joseane. A segunda crise dos ônibus custou o cargo do subsecretario, Fernando Repinaldo, após atabalhoada declaração aos jornais.
Em outro flanco, denúncias de fraudes nos contratos de permissão de táxis de Vitoria se encorpavam e indicavam a Setran como o núcleo de proteção e sistematização de um mercado tão lucrativo quanto irregular, como revelou uma serie de reportagens de Seculo Diário sobre o assunto. As suspeitas de irregularidades também atingiam o edital que distribuiu 108 novas placas. Acima de todas essas suspeições, paira o nome do líder de Luciano Rezende na Câmara de Vitória, Rogerinho Pinheiro (PHS).
As engrenagens do serviço de táxi de Vitória atraiu a atenção de uma CPI já ativa, a da Máfia dos Guinchos, na Assembleia Legislativa, e fermentou a criação de outra, a CPI dos Táxis, na Câmara de Vitória.
A CPI dos Guinchos entrou no tema após denúncias de que agentes da Guarda Municipal e fiscais da Setran realizavam abordagens arbitrárias contra taxistas de outros municípios. A revelação elevou as suspeitas de que a Setran age para resguardar o mercado de táxi da capital capixaba Vitoria, reforçadas após uma controversa declaração de Josivaldo à sessão seguinte: o então secretário garantiu que todos os permissionários de Vitória dirigiam seus táxis. A afirmação serviu como deixa para a comissão aprofundar as investigações.
A pressão sobre Luciano e a Setran só aumentava, forçando a conclusão, pela prefeitura, de uma auditoria interna que o próprio Josivaldo se empenhava em obstruir e protelar. Como Século Diário revelou, o documento escancarava o esquema dos táxis em Vitória e comprometia ainda mais a conduta da Setran. As investigações também complicaram ainda mais um ex-secretário de Transportes, vereador Max Da Mata (PDT).
Enquanto isso, uma outra CPI era constituída na Câmara de Vitória. Com Devanir Ferreira (PRB), na presidência, Serjão Magalhães (PTB) na relatoria e Reinaldo Bolão (PT) na vice-presidência, a CPI dos Táxis, cujo objetivo é estritamente investigar possíveis fraudes nos contratos de permissão de táxi de Vitória, iniciou essa semana as oitivas.
Joseane Zoghbi é a sétima comandante da Setran na gestão Luciano Rezende. Já passaram pela pasta Max Da Mata, Leonardo Zanotelli, José Eduardo de Souza, Leonil Dias, Alex Mariano e Josivaldo.