BOCAGE:
Bocage tinha a desmedida de seu temperamento romântico misturado com seu combate contra velhas tradições políticas e religiosas, este poeta que vai da explosão impulsiva ao mesmo petardo do ciúme, Bocage tem sua inteireza de caráter definida em sua criação poética. Bocage praticava sua poesia lírica e também a sua veia poética da sátira, e o seu percurso com versos envolvia os idílios, nos quais havia o retrato árcade da vida rústica, além das odes, epigramas, canções amorosas com forte conteúdo mitológico, e ainda as cantatas, cançonetas, epístolas, dentre outras modalidades poéticas. Mas é o soneto o clímax de sua inspiração poética, e o que define com mais justeza a sua estética e face humana, o que no poeta é um encontro de fronteiras que vai das regras árcades à liberação sentimental de um Romantismo que estava prestes a eclodir no processo histórico-literário.
Bocage – O Delírio Amoroso e outros Poemas – Parte I
Bocage – O Delírio Amoroso e outros Poemas – Parte II
Ao envolver os sonetos de Bocage, aqui temos seu percurso definido como poeta, é onde fica claro o seu início marcado pela escola árcade e que evoluirá para as confissões amorosas e amargas de um novo temperamento literário que será o do Romantismo. Mas, como Bocage era um poeta dentro de uma situação histórica de transição, isto refletirá em sua poesia como um romantismo (a poesia nova da época) ainda de veia alegórica e mitológica, com a contenção racional própria do arcadismo, no que temos impulsos românticos com a memória viva do estilo neoclássico, pois o poeta Bocage ainda possui sua fraseologia dominada pela expressão árcade, e principalmente sob a influência camoniana.
Com a temática opaca da Arcádia, Bocage vai com o Romantismo, de outro lado, atingir uma predominância de uma poesia de horror, soturna, noturna, com presságios pessimistas que vão dar expressão à cosmovisão de Bocage, e que são o prenúncio do clima psicológico da poesia romântica. Sua poesia emocional vai colocá-lo numa nova fronteira para além da racionalidade asséptica da poesia árcade, demonstrando um novo poeta com veia metafísica, esta que terá na angústia a fonte tormentosa para conflitos sentimentais, de um lado, e ideológicos, de outro.
Bocage, na história da Literatura Portuguesa, é dono de uma poesia que representa o encontro que assinala a decadência de um estilo – árcade – e o limiar de outro – romântico -, e a prática poética de Bocage o coloca, por sua vez, como o criador de anedotas sujas e de poemas obscenos, e também como um dos mestres do soneto, ao lado de Antero de Quental e, ao fim, também ao lado de Luís de Camões.
POEMAS:
AO SENHOR ANDRÉ DA PONTE DO QUENTAL E CÂMARA: O poema abre o raio que cai sobre Sêneca: “O tirano de Roma empunha o raio;/Despede-o contra Sêneca inocente,” (…) “De Nero à dura voz se amorna o banho,” (…) “O filósofo expira.”. E segue seu périplo histórico, agora com a condenação de Sócrates a beber cicuta: “Sócrates imortal, que um Deus proclama,/O mestre de Platão, lá comparece/De acusadores vis enegrecido/No corrupto Areópago.” (…) “De altas meditações, de altas virtudes/Colhe … (que fruto!) a gélida cicuta;”. O poema agora faz filosofia sobre a origem do mal, questão que o poeta tenta deslindar em versos: “Os homens não são maus por natureza;/Atrativo interesse os falsifica,” (…) “Perde o caráter, o equilíbrio perde/A Retidão sisuda.”. Uma tal filosofia moral ainda o poeta contempla, mas o infortúnio da virtude é patente: “Se em útil, em moral filosofia/Não damos aos mortais a lei, o exemplo;” (…) “Que muito que empeçonhe os nossos dias./O que os séculos todos envenena!”. E o tiro de misericórdia cai sobre a verdade: “Se a verdade entre sombras esmorece,” (…) “Para o são tribunal, que ao longe assoma,/Eia, amigo, apelemos.”. Última esperança, o tribunal, reserva moral da verdade, ou não, no que o poeta vê, enfim, a desdita dos virtuosos, perdidos num mundo torto, sem valores: “Os vindouros mortais irão piedosos/Ler-nos na triste campa a história triste,/Darão flores, ó Ponte, às liras nossas,/Pranto a nossos desastres.”. Pranto aos desastres, a lira canta ou lamenta, chora a história triste, o poema lamenta, pois.
À SANTÍSSIMA VIRGEM A SENHORA DA ENCARNAÇÃO: O poema dedicado à virgem santíssima que concebe o Filho de Deus, no que o poeta nos dá os versos: “Acatamento em si e audácia unindo,/Sobre o jus de imortal firmando os voos,/A impávida Razão, celeste eflúvio,/Se eleva, se arrebata.” (…) “Além do firmamento, além do espaço/Que, por lei suma, franqueara o seio/A mundos sem medida, a sóis sem conto,/Imóvel trono assoma:”. O poema narra a aparição da virgem, e eis que é fonte da Luz: “Luz, que existe de si, luz de que emanam/A natureza, a vida, o fado, a glória,/Dali reparte aos entes”. No que a homenagem clareia, em júbilo: “Eis o Espírito excelso,/Radiosa emanação do Pai, do Filho,/Mística pomba de pureza etérea,”. E a concepção do Verbo: “Tu, Verbo, sobrevéns; aérea flama” (…) “Eis fecunda uma virgem:/A redenção começa, o Deus é homem.”. O poema chama o Deus que é um homem, nascido da Virgem, e o poema prorrompe em felicidade, o canto ditoso da divindade: “Que as estrelas, que o Sol, que os céus adoram,/Virgem submissa, mereceu na terra/Circunscrever em si do empíreo a glória.” (…) “Ah! no teu grêmio puro anima os votos/Aos mortais de que és mãe:”. A glória vai do Deus concebido aos demais mortais, de que também a virgem é mãe.
O DELÍRIO AMOROSO: O poema romântico vem em versos da previsão fatal que lhe contém, a do poeta romântico lamentoso, que é choroso e nada estoico: “Inda não bastam, minha voz cansada,/Tantos ais, que tens dado;” (…) “Gritemos, pois, frenéticos ciúmes,/Gritemos outra vez; que dos aflitos/São triste refrigério os ais, e os gritos.”. O poeta então acusa a amante antes de se dar conta de tomar conta dos próprios sentimentos: “O venenoso fel, que em mim derramas;/Doces enganos de minh`alma arreda,/Deixa-lhe a dor intensa, a dor terrível”. A dor romântica, mal do novo século, e da nova poesia de então: “Farte-se Anarda, o variável peito,/Cujas graças me encantam,/Cujas traições no coração me ferem,/E por quem gemo, em lágrimas desfeito:”. E o poeta não vê mais ventura, e amolece sua lira, sucumbido: “Os ternos lábios meus, antes proferem/Lamentos contra Amor, contra a Ventura,/Conheça a desleal, sabia a perjura./Sim, traidora, que o júbilo em torrentes/Viste alagar meu rosto,/Quando em teus braços possuí mil glórias,/Hoje morro de angústias, e o consentes,”. As mil glórias da nostalgia, no que se perde Bocage em lamúrias infinitas: “Já lugar na tu`alma a outro deste,/E o mais ardente amor, o amor mais puro/Não satisfaz teu coração perjuro.”. A acusação vai à amante, nunca ao seu próprio amor desmedido: “Porém quanto, infiel, quanto me agravam/Os sorrisos de amor, com que assevera/Teu gesto encantador, teu meigo rosto,/Que inda propende a saciar meu gosto!”. E a natureza aparece, aqui como conflito de uma alma tormentosa: “Primeiro o mar, e o céu me façam guerra,/E a meu corpo infeliz seu peso esmague:/Primeiro se confunda a Natureza,/Que eu cesse de adorar tua beleza.”. O adorador enfim acusa a beleza, infindo lamentoso que é cego e fundo drama: “A tudo está sujeito um cego amante,/Que não pode quebrar prisões tão duras;/A tudo estou submisso, estou disposto,/Quero tudo sofrer, porque é teu gosto.”. O sofrimento aqui é uma decisão do que ama demais, e não vê que é este que ama que é responsável pela catástrofe: “Sobre as asas dos ventos/Canção chorosa, e rouca,/Vai narrar pelo mundo os meus tormentos:/De almas estoicas a dureza louca/Rirá dos teus lamentos;”. E toda alma estoica, sim, na prudência da ação correta, não rirá dos lamentos, apenas aceitará o fado como vida e superação.
POEMAS:
AO SENHOR ANDRÉ DA PONTE DO QUENTAL E CÂMARA
O tirano de Roma empunha o raio;
Despede-o contra Sêneca inocente,
Ao sábio preceptor fulmina a morte
O discípulo ingrato.
De Nero à dura voz se amorna o banho,
As veias se retalham, corre o sangue,
Avermelham-se as águas, folga o monstro,
O filósofo expira.
Sócrates imortal, que um Deus proclama,
O mestre de Platão, lá comparece
De acusadores vis enegrecido
No corrupto Areópago.
De altas meditações, de altas virtudes
Colhe … (que fruto!) a gélida cicuta;
Cai em silêncio eterno, eterno sono
O oráculo de Atenas.
No abismo do infortúnio, da indigência
Agonizam Camões, Pachecos morrem;
Mendigo, e cego, pela iníqua pátria
Erra o grão Belisário.
De atros vapores, de tartáreas sombras
Nomes augustos a calúnia abafa,
Té que rebente um sol da noite do Erro,
A Razão justiçosa.
Os homens não são maus por natureza;
Atrativo interesse os falsifica,
A utilidade ao mal, e ao bem o instinto
Guia estes frágeis entes.
Enquanto das paixões ativo enxame
Ferve no coração, revolve o peito,
Perde o caráter, o equilíbrio perde
A Retidão sisuda.
Eis surge imparcial Posteridade
Na dextra sopesando etéreo facho;
Tu, cândido, gentil Desinteresse,
Tu lhe espertas a flama.
O Critério sagaz, à frente de ambos,
Aparências descrê, razões combina,
Esmiúça, deslinda, observa, apura;
E depois sentencia.
Já sem nódoa a virtude então rutila,
Já sem máscara o vício então negreja,
Desce ao túmulo a Glória, heróis arranca
Aos domínios da morte.
Se não somos heróis, se em nós, ó Ponte,
Afoiteza não há, não há constância,
Para com férrea mão suster da pátria
A mutante ventura:
Se em útil, em moral filosofia
Não damos aos mortais a lei, o exemplo;
Se dos luzeiros sete à clara Grécia
O grau não disputamos;
Nossos nomes, amigo, alçados vemos
Acima dos comuns: ama-nos Febo,
As Musas nos enlouram; cultos nossos
Mansa Virtude acolhe.
Em tenebrosos cárceres jazemos;
Falaz acusação nos agrilhoa;
De opressões, de ameaços nos carrega
O rigor carrancudo;
Mas puro dom dos Céus, alva inocência,
Esta afronta, este horror nos atavia;
Íntima candidez compensa as manchas
Da superfície escura.
Males com a existência andam cosidos;
Desde o primário ponto do universo
Esta amarga semente sobre a terra
Caiu da mão dos fados.
Entanto que a raiz tenaz, fecunda
Infecta o coração da natureza,
Os tugúrios sufoca, assombra os tronos
A venenosa rama.
Que muito que empeçonhe os nossos dias.
O que os séculos todos envenena!
Não merecer-se o mal é jus, é parte
Para sentir-se menos.
Deixemos a perversos delatores
Os filhos do terror, fantasmas negros,
Que o medonho clarão da luz interna
Assopram sobre os crimes.
Se a verdade entre sombras esmorece,
Se das eras tardias pendo, e pendes,
Para o são tribunal, que ao longe assoma,
Eia, amigo, apelemos.
Também há para nós posteridade,
Quando lá no sepulcro em cinzas soltos
Não pudermos cevar faminta inveja,
Calúnia devorante:
Os vindouros mortais irão piedosos
Ler-nos na triste campa a história triste,
Darão flores, ó Ponte, às liras nossas,
Pranto a nossos desastres.
À SANTÍSSIMA VIRGEM A SENHORA DA ENCARNAÇÃO
Acatamento em si e audácia unindo,
Sobre o jus de imortal firmando os voos,
A impávida Razão, celeste eflúvio,
Se eleva, se arrebata.
Por entre imensa noite e dia imenso
(Mercê do condutor, da Fé, que a anima)
Sobe de céus em céus, alcança ao longe
O grão Princípio dos princípios todos.
Além do firmamento, além do espaço
Que, por lei suma, franqueara o seio
A mundos sem medida, a sóis sem conto,
Imóvel trono assoma:
De um lado e de outro lado é todo estrelas;
Vence ao diamante a consistência, o lume;
Absortos cortesãos o incensam curvos,
Tem por base, e dossel a eternidade.
Luz, de reflexos três, inextinguível,
Luz, que existe de si, luz de que emanam
A natureza, a vida, o fado, a glória,
Dali reparte aos entes
Altas virtudes, sentimento augusto;
Aos entes, que a Terra extraviados,
Das rebeldes paixões entre o tumulto
Ao grito do remorso param, tremem.
Filho do Nada! Um Deus te vê, te escuta!
Seus olhos imortais do empíreo cume
(Aos teus imensidade, aos d`Ele um ponto)
Atentaram teus dias,
Teus dias cor da morte, ou cor do inferno;
De alma em alma grassando a peste avita;
Hálito de serpente enorme, infesta,
Da primeva inocência a flor crestara:
Aos dois (como Ele) do Universo origem
Diz o Nume em si mesmo: – “O prazo é vindo;
Cumpra-se quanto em nós disposto havemos”.
Eis o Espírito excelso,
Radiosa emanação do Pai, do Filho,
Mística pomba de pureza etérea,
À donzela Idumeia inclina os voos,
Pousa, bafeja, e diviniza o puro.
Tu, Verbo, sobrevéns; aérea flama
Com tanta rapidez não sulca o polo!
Eis alteado o grau da humanidade;
Eis fecunda uma virgem:
A redenção começa, o Deus é homem.
Da graça, da inocência, oh paz, oh risos,
Do céu vos deslizais, volveis ao mundo!
Caí, torres de horror, troféus do Averno!
Que estrondo! … Que tropel! … Ao negro abismo
Que desesperação revolve o bojo! …
Para aqui, para ali por entre Fúrias
O sacrílego monstro,
O rábido Satã em vão blasfema.
Lá quer de novo arremeter ao mundo;
Mas vê rapidamente aferrolhado
O tartáreo portão com chave eterna.
Enquanto brama, arqueja enquanto o fero
Morde, remorde as mãos, e a boca horrenda
(As espumas veneno, os olhos brasas)
Mulher divina exulta;
Celestial penhor, que os anjos cantam,
Que as estrelas, que o Sol, que os céus adoram,
Virgem submissa, mereceu na terra
Circunscrever em si do empíreo a glória.
Salve, oh! salve, imortal, serena diva,
Do Nume oculto incombustível sarça,
Rosa de Jericó por Deus disposta!
Flor, ante quem se humilham
Os cedros, de que o Líbano alardeia!
Ah! no teu grêmio puro anima os votos
Aos mortais de que és mãe: seu pranto enxugue,
Seus males abonance um teu sorriso.
O DELÍRIO AMOROSO
Inda não bastam, minha voz cansada,
Tantos ais, que tens dado;
É necessário renovar queixumes,
Queixumes, de que o fero Amor se agrada,
De que zombando está meu duro fado:
Gritemos, pois, frenéticos ciúmes,
Gritemos outra vez; que dos aflitos
São triste refrigério os ais, e os gritos.
Carrancuda Agonia, azeda, azeda
Inda mais, se é possível,
O venenoso fel, que em mim derramas;
Doces enganos de minh`alma arreda,
Deixa-lhe a dor intensa, a dor terrível
Dos ígneos zelos, das tartáreas chamas,
Deixa-lhe as ânsias, a peçonha, as iras,
E a desesperação, que tu respiras.
Farte-se Anarda, o variável peito,
Cujas graças me encantam,
Cujas traições no coração me ferem,
E por quem gemo, em lágrimas desfeito:
Que já mil bens dulcíssimos não cantam
Os ternos lábios meus, antes proferem
Lamentos contra Amor, contra a Ventura,
Conheça a desleal, sabia a perjura.
Sim, traidora, que o júbilo em torrentes
Viste alagar meu rosto,
Quando em teus braços possuí mil glórias,
Hoje morro de angústias, e o consentes,
Podendo-me, cruel, matar de gosto?
Oh êxtase! Oh delícias transitórias!
Oh vão prazer dos crédulos amantes,
Mais fugaz que os alígeros instantes!
Cansaste, Anarda: a sólida firmeza
Vezes mil protestada,
Votos de eterna fé, que me fizeste,
Manter não pôde feminil fraqueza,
A quem somente a novidade agrada:
Já lugar na tu`alma a outro deste,
E o mais ardente amor, o amor mais puro
Não satisfaz teu coração perjuro.
Se me fugisses, se de todo as chamas.
Que por mim te abrasavam,
A nova inclinação te amortecera,
Desculpara esse ardor, em que te inflamas;
Porém quanto, infiel, quanto me agravam
Os sorrisos de amor, com que assevera
Teu gesto encantador, teu meigo rosto,
Que inda propende a saciar meu gosto!
Presumes, que se paga uma alma nobre,
Um coração brioso
De um sórdido prazer, torpe, e corrupto
Qual esse, que me ofertas, se descobre?
Assim só pode o vil ser venturoso,
Essa fortuna por baldão reputo:
Em amor antes só ser desgraçado,
Que de outrem na ventura acompanhado.
Vai, fementida, que a paixão perfeita
Os seus dons não reparte;
Vai gemer noutro peito, e noutros braços:
Pérfidos mimos desse infame aceita,
Enquanto juro aos Céus de abominar-te,
Enquanto arranco meus indignos laços,
Enquanto … ah! Que falei! Meu bem, detém-te,
Abafa a minha voz, dize que mente!
Eu deixar-te (ai de mim!) primeiro a Terra
Mostre as fundas entranhas
Por larga boca horrível, que me trague:
Primeiro o mar, e o céu me façam guerra,
E a meu corpo infeliz seu peso esmague:
Primeiro se confunda a Natureza,
Que eu cesse de adorar tua beleza.
Vejam meus olhos esses teus pasmados
De um rival no semblante;
Ouça-te os ais, que com seus ais misturas,
E os agrados, que opões aos seus agrados:
A tudo está sujeito um cego amante,
Que não pode quebrar prisões tão duras;
A tudo estou submisso, estou disposto,
Quero tudo sofrer, porque é teu gosto.
Terá por crime, suporá vileza
Tão cruel tolerância
Quem não sente o poder da formosura;
Porém minh`alma, nos teus olhos presa,
Inda chega a temer, que esta constância
Prova não seja de exemplar ternura:
E saibam, se com isto em crime faço,
Que o crime adoro, que a vileza abraço.
Sobre as asas dos ventos
Canção chorosa, e rouca,
Vai narrar pelo mundo os meus tormentos:
De almas estoicas a dureza louca
Rirá dos teus lamentos;
Mas nos servos de Amor terás abrigo:
Quando te ouvirem, chorarão contigo.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor