A Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce passou nessa quinta-feira (14) pelas aldeias Krenak, os últimos Botocudo sobre a Terra, que vivem às margens do rio, na região do município de Resplendor, em Minas Gerais. Este encontro com os índios tenha sido, talvez, o momento mais emocionante da Caravana.
A história desses índios corre o risco de desmoronar junto com o crime ambiental decorrido do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco/Vale-BHP em Mariana (MG), destituindo o bem maior deles, que é o rio Doce. Os Krenak – Borun Watu (povo do rio Doce) – são os derradeiros Botocudo junto ao rio e agora ouvem seus angustiantes gemidos de morte.
O principal encontro com os índios Krenak aconteceu à beira do rio. A comitiva que saiu do Estado, coordenada pela professora da Universidade Federal do Estado (Ufes), Simone Batista Ferreira, é composta por especialistas, entidades e também por integrantes das áreas atingidas pelo crime ambiental.
No fundo, trata-se de uma troca de informações para atender à ação desse grupo. Entre os relatos há perdas semelhantes às das populações ribeirinhas, principalmente de quem dependia do rio, como pescadores.
Os integrantes da Caravana ouviram não somente sobre a questão da falta d’água e das perdas, mas sobre a importância religiosa que o rio tem para os índios. Como disseram os índios, o rio é tudo para eles. Ali eles se banhavam, pescavam e rezavam, e isso ficou muito claro para os integrantes da Caravana.
Não há como os Krenak viverem sem o rio, como enfatizaram os líderes indígenas e as mulheres. A realidade é diferente do que ocorreu em outros pontos, justamente pela importância religiosa e cultural do manancial.
Os índios Krenak ocupam entre 400 mil e 900 mil hectares de terras na região e trabalham com gado leiteiro. O rio os afeta de forma diferente, já que tem toda a história dos antepassados dele – os Botocudo. As aldeias ficam à margem esquerda do rio Doce, mas os Krenak lutam para ocupar a margem direita, que também os pertence, mas é área onde o branco explora água mineral e por onde também trafegam os barulhentos e poluidores trens de minério da Vale.
Ao final do encontro, que durou mais de uma hora, um grupo de índios levantou-se e dançou sob um canto de lamúria e despedida do rio Doce.
Nesta sexta-feira (15), a Caravana se reúne na Praça dos Pioneiros, no município de Governador Valadares, em Minas Gerais, em preparação ao grande ato público que será realizado neste sábado. A Caravana é uma iniciativa coletiva de mais de 40 organizações, redes, coletivos e movimentos sociais envolvidos e articulados direta e indiretamente no crime ambiental.
Os grupos que formam as quatro rotas, ao todo 150 pessoas, iniciaram o trajeto nessa segunda-feira (11). A rota 4, do Espírito Santo, esteve em Anchieta, no litoral sul do Estado, onde fica a sede da Samarco no Estado, em Barra do Riacho (Aracruz) e Regência (Linhares), onde está localizada a foz do rio. Na vila de pescadores que registrou o encontro dos rejeitos com o mar, foi realizado um ato político.
O grupo seguiu para Governador Valadares, onde se encontrou com os outros membros. Neste sábado a Caravana fará um ato de desagravo ao rio Doce, depois que organizarem todas as perdas dos moradores das margens. Este deve ser um dos documentos mais importantes da Caravana, já que reúne um grande número de tragédias dos ribeirinhos. Além disso, a Caravana apresentará propostas econômicas viáveis a essas comunidades, voltadas para a agricultura familiar.
Integram a Caravana entidades como a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Articulação Mineira de Agroecologia (AMA), Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Mineração (MAM), além de instituições de ensino, como a Ufes.