A Vale já havia decidido empregar a tecnologia das barreiras de vento, as wind fences, nos seus pátios de estocagem de minério, quando estudou outra técnica, a do enclausuramento das pilhas de minério ou domus. A contradição é apontada pelo presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi Junior.
As wind fence são provadamente ineficazes para conter o arrasto dos minérios das pilhas, produzindo o chamado pó preto. O aumento da poluição do ar na região é a maior prova desta ineficácia, como apontam os ambientalistas. Além da poluição por material particulado, os moradores da Grande Vitoria e do sul do Estado são bombardeados por poluentes gasosos, ainda mais graves.
Os gases e minérios ultrafinos, as PM 2.5 – que são respiráveis -, são lançados no ar pelas chaminés das usinas de pelotização e as siderúrgicas. No caso da Vale, a empresa usou por décadas o “óleo baiano”, um diesel de alto teor de enxofre (4%), altamente cancerígeno. O uso deste óleo foi apenas por economia. Só há pouco tempo a empresa mudou sua fonte energética, uma vez mais por economia.
Já a ArcelorMittal Tubarão lança poluentes por suas chaminés sem nenhum tratamento. Têm três siderúrgicas, e apenas duas unidades de dessulfuração. No sul, é notória a poluição do ar por gases lançados pela Samarco.
A Juntos SOS ES Ambiental reúne diversas organizações da sociedade civil no combate à poluição do ar produzida no Estado e, particularmente, na Grande Vitória. Na região metropolitana as principais poluidoras são a Vale e a ArcelorMittal Tubarão e Cariacica.
A contradição apontada pelo ambientalista na definição da tecnologia para supostamente controlar a poluição foi observada durante o depoimento de Murilo Ferreira, presidente da Vale, na CPI do Pó Preto, nesta quinta-feira (23). Na ocasião, o gerente de meio ambiente da Vale, Romildo Fracalossi, informou que a opção domus foi estudada em 2010, entre outros elementos.
O Termo de Compromisso Ambiental (TCA) da Vale foi assinado pelo Ministério Público Estadual (MPES), governo do Estado, através do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema, e uma entidade da sociedade civil, em junho de 2007.
Lembra o ambientalista, que houve a definição de instalação da opção wind fence pela própria Vale. A primeira wind fence foi inaugurada em agosto de 2009; a segunda em dezembro de 2010; a terceira em fevereiro de 2011; a quarta em abril de 2011; e, a quinta em outubro de 2011. O cronograma foi citado pelo representante da Vale.
A partir desta informação, a Juntos SOS ES Ambiental solicitou ao presidente da CPI do Pó Preto, Rafael Favatto (PEN), que requira esclarecimentos detalhados ao gerente de meio ambiente da Vale do motivo de a empresa não ter estudado a alternativa técnica domus em 2006/7. E o porquê do estudo desta alternativa ter sido realizado em 2010.
O ambientalista, pela presidência da CPI, quer saber “qual a justificativa para se estudar a alternativa domus em 2010 se já estava instalada uma wind fence desde agosto de 2009 e outras wind feces em construção e, provavelmente, o pacote comprado já foi para as cinco wind fences instaladas?”
E que o requerimento inclua todas as atas ds reuniões referentes ao TCA, antes e depois de sua assinatura. Além de todos os estudos realizados antes e depois da assinatura do TCA sobre a opção wind fences e os estudos sobre o domus em 2010.
Da mesma forma, considera essencial todos os documentos com os pareceres do Iema, MPES e representante das associações de moradores sobre estes estudos.