Fotos: Leonardo Sá / Agência Porã
Uma mensagem especial deve ser levada pelos trabalhadores do campo aos moradores da cidade: os alimentos transgênicos e os agrotóxicos usados na sua produção causam várias doenças, inclusive o câncer, e matam. O alerta foi apresentado no VI Encontro Estadual do Movimento dos Pequenos Produtores (MPA) no Espírito Santo. O evento é realizado em Vitória e será encerrado nesta quinta-feira (2).
A autora da recomendação para que os camponeses discutam a questão dos alimentos com os moradores das cidades, alertando para os riscos do que consomem, é da professora Leile Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A professora afirmou que a produção e consumo dos alimentos devem estar no centro da atual conjuntura. “Na cidade, consumimos o que está a nossa disposição e, na maioria das vezes, o que comemos são alimentos multiprocessados. Parece comida, mas não é comida” afirmou Leile Teixeira (foto à direita).
Para ela, é preciso que a clareza que se tem dos riscos dos alimentos transgênicos, que são modificados para que possam receber mais venenos agrícolas, deve ser levada para todos em discussões que liguem os trabalhadores do campo aos moradores da cidade. A professora afirma que é fundamental vermos o alimento para além de sua capacidade nutricional, “muito mais que proteínas e sais minerais, nos alimentamos de manga, de limão, e isso tem um rastro cultural muito forte”.
Entre uma gama de dados sobre o tema alimentação, a professora Leile Teixeira alertou sobre os problemas causados pelo agronegócio na humanidade. A entrada do capital na agricultura marca um novo momento, pois é a partir disso que o que comemos começa também a nos matar. “O agronegócio é uma violência contra o solo, a água e o corpo humano”, sentencia. Lembrou que entre as doenças causadas pelos alimentos disponíveis, estão o diabetes, o câncer, e doenças genéticas.
A professora foi palestrante na abertura do VI Encontro Estadual do MPA no Espírito Santo, nessa terça-feira (30). Pela primeira vez, o evento está sendo realizado em Vitória, e conta com 25 organizações urbanas, sindicatos, parceiros e parceiras do MPA. Participarão pelo menos 300 camponeses e camponesas do total previsto, cerca de 500. Os trabalhadores estão acampados no centro sindical dos Bancários. Muitos, com seus filhos, inclusive lactantes.
Outro palestrante foi o professor Mauro Iasi (foto à esquerda), também da UFRJ. Ele assinalou que o momento em que estamos vivendo marca um fim de um ciclo, que no Brasil se abriu no final da ditadura militar. “O dilema da conjuntura é que o capital está em crise, mas essa crise está sendo jogada nos ombros da classe trabalhadora”, afirma. E ressalta que “não será possível nenhuma alternativa de transformação que não venha da base da sociedade”.
As palestras foram ricas de informações. Humberto Ribeiro, da direção nacional do MPA, afirmou que o congresso tem a marca histórica da classe trabalhadora, por retomar a pauta da luta de classes, no processo de aliança dos camponeses com os trabalhadores da cidade. “O fator concreto que faz o elo entre o campo e a cidade é o alimento”, afirmou.
Vários trabalhadores participaram debatendo os temas levantados e discutindo outras formas de aliança entre os trabalhadores do campo e da cidade. Foram criticados os valores astronômicos colocados à disposição do agronegócio pelos governos, Lula e Dilma entre eles. A cifra hoje atinge R$ 188 bilhões para o agronegócio, 20% a mais que na última safra.
São recursos destinados ao agronegócio para a safra 2015/2016, anunciados pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), em evento que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff. Kátia é a maior representante dos que defendem o agronegócio, conhecido como o grupo da motossera, tamanha sua voracidade.
O agronegócio também é assentado no emprego de transgênicos e no intenso uso de venenos agrícolas, considerando que as sementes são modificadas para que possam receber mais agrotóxicos. Empresas como a Monsanto (Estados Unidos), Syngenta (Suíça), Dupont (EUA), Basf (Alemanha), Bayer (Alemanha) e Dow (EUA) atuam nos setores de produção de transgênicos e de agrotóxicos ao mesmo tempo.
Já o Novo Plano Safra da Agricultura Familiar 2015-2016 lançado pelo governo federal prevê o valor de apenas R$ 28,9 bilhões, ou seja, 20% a mais que na safra anterior. Embora os pequenos e médios agricultores produzam cerca de 70% dos alimentos consumidos no país, respondam por 77% da mão de obra no campo, e detenha o maior número de propriedades rurais.
Os temas desta quarta-feira (1) pela manhã foram Organicidade, por Humberto Ribeiro, da direção nacional do MPA, e Plenária da Mulher. À tarde, outra plenária, da Juventude Mulheres, além de Relação de Gênero; Juventude Camponesa; Educação Camponesa; Terra e Território; Soberania Alimentar; e Plano Camponês serão discutidos por Valmir Noventa, Hugo e Dione.
O encerramento nesta quinta-feira (2) será com discussões entre 7h20min e 12h, com encaminhamento para o congresso nacional. Às 13h30, haverá atos de assinatura da moradia, do trator e implementos, coordenados por Dione e Dorizete Cosme.
O VI Encontro Estadual do Movimento dos Pequenos Produtores (MPA) no Espírito Santo reafirma a necessidade de produzir alimentos de qualidade e colocá-los na mesa dos trabalhadores da cidade, como parte da estratégia da Aliança Camponesa e Operária.
No evento, o MPA visa a preparação para o I Congresso Nacional do MPA, que será realizado no mês de outubro, entre os dias 12 e 16, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Plano Camponês, Aliança camponesa e operária por soberania alimentar e poder popular são os temas do congresso.