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‘Queda’ de presidente da Renova é comemorada na Assembleia Legislativa

A “queda” do biólogo e administrador de empresas Roberto Waack da presidência da Fundação Renova, anunciada em carta nessa quarta-feira (20), foi motivo de comemoração e ironia na Assembleia Legislativa, onde o executivo chegou a receber voz de prisão durante reunião conjunta da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Sonegação, no início de outubro. 

“Isso alegra a nós do Espírito Santo, que temos sido vítimas da incapacidade e da falta de interesse do presidente da Fundação Renova em resolver o problema da população”, afirmou o deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) durante sessão ordinária dessa quarta, quando o assunto começou a circular nos bastidores.

“Então vou manter a expectativa de que isso seja realmente verdade e que possa ser colocado outro presidente que tenha sensibilidade e que possa trabalhar pra resolver o problema dos pescadores, dos atingidos pela lama do Rio Doce, já que existe dinheiro na Fundação”, prosseguiu o parlamentar, ressaltando que a saída de Waack ainda não estava oficialmente confirmada. 

“Já que a Globo derrubou um parente dele, o William Waack, nós agora temos o prazer também de ter certeza de que outro Waack, da Fundação Renova, caiu”, ironizou. 

Na carta oficial, o ainda presidente da Renova usa como justificativa o início de um processo de transição na presidência neste mês de novembro, com conclusão prevista para o início de 2020, com a posse, no cargo, do atual diretor Socioeconômico e Ambiental, André de Freitas. Em seguida, numa tentativa de afastar o desgaste decorrente da omissão da função após quatro anos de crime, diz que o período à frente da fundação “aprofundaram algumas convicções que tenho desde o momento em que aceitei o desafio de liderar esse processo”, exaltando ações do trabalho de reparação, que chamou de “sólido e robusto”, contrariando a real situação dos atingidos e as graves denúncias registradas até hoje.

Dias antes do anúncio da troca de cadeiras no comando da Fundação Renova, o deputado Enivaldo disse, em discurso na Tribuna da Ales na última segunda-feira (18), que “não adianta a diretoria fundação correr, porque não vamos nos cansar de correr atrás da Renova”. 

A declaração foi a propósito do comportamento da diretoria da Fundação, que, segundo o deputado, foi convocada juntamente com a empresa de seguro da Samarco para depor na CPI da Sonegação no próximo dia 2 de dezembro: “Não adianta recorrer a influência externa, a políticos de importância, recorrer ao Judiciário com banca de advogados a custo de ouro, entrar com habeas corpus no mesmo dia e conseguir liminar.  Vamos continuar correndo atrás da Renova. Não se pode tratar com certa urbanidade algumas empresas que são especialistas em enrolar e transgredir a lei no Espírito Santo”.

De acordo com Enivaldo, a Fundação Renova “enrola, trapaceia e sonega informações e não resolve o problema das pessoas atingidas pela lama do Rio Doce”. E chamou de mentirosa a Fundação, reclamando que a lei não alcança quem tem muito dinheiro: “É falta de respeito. Existe lei para tudo nesse País, só não existe lei para tomar providência para esse tipo de abuso. A Vale não cumpre suas obrigações, a Samarco faz o mesmo, e criaram essa Fundação Renova, que na verdade é uma fundação que enrola as pessoas, não respeita e nem trata todos com igualdade”. 

O pronunciamento foi apoiado pela deputada Iriny Lopes (PT), que fez uma sugestão: “Eles entraram na 12ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais pedindo que quem não for cadastrado até dia 19 de dezembro não seja mais. Dos atingidos, poucos foram cadastrados. Se a Justiça conceder o pedido da Samarco, 90% dos atingidos ficará ao Deus dará. Sugiro à CPI para peticionar à Justiça e ao Ministério Público Federal que a Renova seja retirada do TAC e as empresas sejam incluídas”.

Fora, Renova!

A substituição da presidência da Fundação se inicia num momento em que a própria Renova anunciou sua saída das reuniões do Comitê Interfederativo (CIF), instância criada no âmbito do TTAC para deliberar e fiscalizar a execução dos 42 programas de reparação e compensação dos danos advindos do crime da Samarco/Vale-BHP. 

A Fundação se retirou das duas últimas reuniões mensais do CIF, de outubro e novembro, realizadas em Brasília e Belo Horizonte, respectivamente, alegando, em ofício, se sentir “intimidada pela presença dos atingidos”, que têm declarado seu desespero com a falta de eficiência da Fundação em reconhecer e indenizar as pessoas que foram impactadas pela lama de rejeitos. 

Para o prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros (PCdoB), presente na última reunião do CIF, a atitude da Fundação é um “verdadeiro absurdo”, segundo publicou em suas redes sociais. “A atitude da fundação, supostamente criada para solucionar o crime ambiental da Samarco e recuperar o desequilíbrio ecológico causado nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, além da costa brasileira, demonstra total desrespeito a todos os atingidos e à sociedade brasileira”, disse o prefeito, que já foi ameaçado de processo pela Renova por ter feito críticas pública contra a atuação da entidade junto aos atingidos. 

No dia seguinte à reunião, o prefeito, que é representante, no CIF, dos municípios capixabas atingidos pelo crime, visitou as obras de reconstrução do distrito de Bento Rodrigues, a primeira localidade a ser atingida pela enxurrada de rejeitos de minério, e se disse impressionado com a cifra de R$ 600 milhões empregadas na construção de 231 casas e outras estruturas públicas para a população de Bento Rodrigues, distrito de Mariana/MG que primeiro recebeu a enxurrada de lama da Barragem de Fundão. 

“Queria que todos os atingidos fossem respeitados com igualdade, mas pelo visto a esmagadora maioria ainda está esquecida e se não mudar tudo vai ficar assim”, declarou, em referência às palavras de Waack em sua carta de despedida da presidência. 

Lideranças de pescadores e lideranças políticas já têm pedido, desde o início do ano, a saída da Fundação da governança, exigindo que a própria Samarco passe a se responsabilizar diretamente pelas ações de reparação. 

“A Fundação Renova é um engodo e deve ser destituída desse processo”, disse o deputado federal Helder Salomão (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ao apresentar, em Brasília, o relatório das diligências feitas pela comissão nas comunidades capixabas atingidas pelo crime. 

“O que nós vimos nas diligências é de cortar o coração. São gritos de socorro de pessoas que estão doentes não só fisicamente, mas também emocionalmente. E isso pode comprometer as futuras gerações. Os filhos das pessoas atingidas podem sofrer mais consequências se não houver atuação do poder público, mas também das empresas”, denuncia o deputado.

 

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