Quarta, 08 Mai 2024

Arpilleras: mulheres que bordam a resistência

Arpilleras: mulheres que bordam a resistência

As arpilleras são uma técnica têxtil surgida a partir das mulheres da Isla Negra, no Chile. A cantora e folclorista Violeta Parra foi uma das que aprendeu a arte e a mostrou para o mundo, chegando a exibir suas obras no Museu do Louvre, em Paris. Violeta dizia que a arpillera é “uma canção bordada”. E por meio delas mulheres chilenas do campo e da cidade conseguiram registrar histórias e fazer denúncias dos terríveis tempos da ditadura de Augusto Pinochet desde os anos 70.

No Brasil, mais recentemente, a arpillera passou a ser adotada como arte e estratégia política pelo Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), de caráter nacional, que chegou ao Espírito Santo a partir do crime do rompimento da barragem da Samarco/Vale-BHP em Mariana (MG), que afetou grandes contingentes de população capixaba. Os lindos e delicados desenhos bordados pelas arpilleras brasileiras contam a realidade das comunidades afetadas por esses empreendimentos e já integraram uma exposição no Memorial da América Latina, em São Paulo.

O documentário Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistências registra de uma ponta a outra do país como as mulheres atingidas adotaram essa técnica e o que vêm expressando por meio dela. O filme será exibido pela primeira vez em Vitória nesta sexta-feira (15), às 19h, no Cine Metropolis, como parte do I Encontro Estadual do MAB.

A obra foi feita com apoio de uma campanha de financiamento colaborativo pela internet. Como as bordadeiras, o filme vai tecendo histórias, costurando a vida de mulheres das cinco regiões do Brasil conectadas por dores e lutas. A narrativa feminina começa no Rio Grande do Sul, passa pela região amazônica, pelas afetadas pelo crime da Samarco no Rio Doce, por Goiás e pelo Nordeste brasileiro, cada local com suas protagonistas, mas sempre em diálogo com outras mulheres. A diversidade mostrada também é uma marca da produção: diferentes culturas, ecossistemas e também projetos de impacto, sendo barragens hidrelétricas, de mineração e de água.

A primeira personagem tece um pedaço de arpillera e envia com uma carta para a seguinte. E assim vai. A câmera acompanha essas mulheres que tomam a palavra e mostram as injustiças de um sistema vendido como limpo e seguro, mas que impacta fortemente na vida da população mais humilde. Muitos perderam suas casas, territórios e modos de vida em prol de megaestruturas construídas como uma locomotiva que atropela e não dialoga com quem ocupa de maneira ancestral e tradicional os locais onde se instalam.



"No MAB, notamos que as mulheres tendem a sentir mais os laços comunitários que se rompem com as barragens. A gente quis justamente mostrar a força da luta das mulheres nos territórios", conta Tchenna Fernandes Maso, integrante do movimento que trabalha diretamente no processo de formação política com as mulheres e contribuiu na discussão do roteiro do documentário.

Cidades e memórias debaixo d' água, a relação espiritual com o rio quebrada, as formas de sustento afetadas, tudo isso é faz parte de uma dura realidade que não se vê quando políticos e empresários vendem a imagem do Brasil para o mundo.

Mas Arpilleras também é um filme de esperanças. De lutas, encontros, empoderamento, conversas e bordados. "Para nós foi muito interessante o trabalho das arpilleras e a repercussão do filme, pois inseriu o MAB numa dimensão cultural e simbólica, porque as peças representam projetos políticos que se traduzem em outra linguagem. É uma linguagem que mexe com o universo sensível das mulheres, que muitas vezes têm dificuldade de falar na política tradicional, mas nesse espaço conseguem se expressar".

Tchenna explica que as arpilleras representam um marco importante para o MAB, pois permitem intensificar o trabalho com as mulheres. "A gente sempre veio fazendo a discussão feminista, mas não tinha coisas tão concretas pras mulheres trabalharem. O processo de empoderamento foi muito grande. Sempre nos perguntávamos no MAB porque as mulheres eram maioria, mas não participavam na política. Hoje na maioria das regiões são as mulheres que lideram esse processo", conta Tchenna, que estará presente na sessão única do filme no Cine Metropolis, fazendo a apresentação e participando do debate posterior à exibição.

AGENDA CULTURAL

Exibição do documentário “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistências”

Quando: Sexta-feira, 15 de junho, 19h

Onde: Cine Metropolis - Campus da Ufes em Goiabeiras - Vitória/ES

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